12 de nov. de 2009

Entrevista - Fábio Seixas

O Blog Fanáticos entrevistou Fábio Seixas, jornalista do Jornal Folha de São Paulo e que cobre automobilismo desde 1997. Trabalhou na cobertura in loco da Fórmula 1 de 1999 a 2006 pela própria Folha e pelas Rádios Bandeirantes e BandNews FM e esteve presente em mais de 120 GPs. Hoje ainda participa das transmissões pelas Rádios do Grupo Bandeirantes, além de assinar uma coluna especializada na Folha.

Blog Fanáticos - Por que você decidiu se tornar jornalista?
Fábio Seixas – Sempre gostei muito de escrever e ler. Ganhava concursos no colégio, sempre fui metido a criar jornalzinho... Mas só foi dar o clique de fazer jornalismo na hora de me inscrever para o vestibular. Só fui decidir em cima da hora. Nunca tinha conhecido um jornalista. Eu tinha dúvida, pois não sabia se era viável para minha realidade na época. Tinha dúvida entre jornalismo e arquitetura. E foi um primo meu que me abriu os olhos e me deu o toque para eu fazer jornalismo.

BF – E a partir de quando você decidiu trabalhar com jornalismo esportivo?
FS – Na hora que escolhi fazer jornalismo eu já decidi fazer esporte. Foi automático. Eu queria na verdade fazer futebol. Eu jogava, colecionava Placar e gostava de acompanhar.

BF – E como começou a sua relação com automobilismo?

FS – Eu gostava de futebol, mas também já gostava de automobilismo. Era torcedor. Eu gravava as corridas, torcia pelo Senna e provocava um tio meu que torcia pelo Piquet. Comecei a trabalhar com automobilismo porque eu estava na Folha e queria entrar em Esportes. Apareceu a vaga para fazer a Indy e eu entrei nessa. Se fosse para cobrir vôlei ou tênis, teria entrado também de qualquer jeito.

BF – Quais jornalistas, em geral, você admira?

FS – Tem alguns que eu admiro pelo texto, como o Cony e o Gaspari. Gosto de ler os textos deles. Gosto também do Fernando Rodrigues, repórter da Folha. Gosto de um texto bem escrito. Curto essas grandes reportagens, que vão a fundo em uma história, mas as vezes me chama a atenção um texto que não tem nada demais, nenhum furo, mas é muito bem escrito. Admiro isso. Eu tinha o costume de colecionar leads. Eu lia um que eu gostava e guardava.

BF – Você tem uma admiração especial por algum atleta?
FS – Três caras que eu entrevistei que senti vontade de pedir autógrafo: Schumacher, Pelé e Jordan. Não pedi porque estava na posição de jornalista e eu tinha que respeitar isso. Acredito que é muito importante manter a relação profissional com o entrevistado e não mostrar um lado fã.

BF – Você guarda algum momento marcante em coberturas?
FS – A primeira vitória do Rubinho, na Alemanha, foi super marcante. Seja qual for sua opinião sobre ele, foi uma corrida sensacional e ele é um cara que tinha uma história de peso. A aposentadoria do Schumacher também foi um momento marcante. Por ser o esportista que ele é e por eu ter visto, ali de perto, cinco dos sete títulos dele. E as Olimpíadas. Cobri três Olimpíadas. Marcante também. São os melhores esportistas do mundo, é um evento muito legal que tem todo um clima.

BF – O que você acha da atual cobertura da Fórmula 1?
FS – Acho uma cobertura ruim. Muito ruim. É ruim tanto no Brasil quanto lá fora. Muito repórter amigo de piloto, revista que quer dar apoio a piloto ou equipe do país... Grande parte do que lemos hoje tem que ser lido com desconfiança. Quando teve o racha do Alonso com a McLaren, por exemplo, a imprensa da Espanha ficou tomando as dores do Alonso, enquanto os ingleses fecharam com a McLaren.

BF – O que você acha do uso das novas mídias, como internet, blogs e Twitter? Alguns pilotos reclamam deste tipo de cobertura, dizendo que pessoas que nunca pisaram em um autódromo podem escrever o que quiserem e reclamam da publicação de frases do Twitter.
FS – Com o tempo, o joio vai se separar do trigo. O número de sites de automobilismo no Brasil há cinco anos era muito maior que hoje. É verdade que hoje qualquer pessoa pode abrir um blog e colocar sua opinião, mas se não for sério, ele cai no ridículo e as pessoas param de ler. Não vejo como ameaça às mídias tradicionais. É um processo que não tem como parar. Tem que separar os sites que não servem dos corretos. E os sites tem que aprender a ver se a notícia é interessante. Pensar se vale a pena replicar qualquer notícia de um site inglês, por exemplo. Quanto ao Twitter, acho válido. Se um piloto escreve no Twitter, é a voz dele e está público. Só tem que saber separar, mas se for notícia é válido. Só não acho que tem que ficar publicando qualquer coisa que o cara escreve.

BF – O que você acha da gerência e do momento do automobilismo brasileiro?
FS – O automobilismo brasileiro viveu um auge quando tinha apoio das montadoras. É muito difícil fazer sem apoio. Veja a Fórmula Renault, do Pedro Paulo Diniz. Ele tem muito dinheiro, importou carros, a categoria sobreviveu um tempo, e depois acabou morrendo. E quem deveria correr atrás deveria ser a CBA, que não faz. A CBA hoje não organiza, só homologa a competição. A única que existe é a Fórmula 3, que está nas mãos de empresários, que viram a oportunidade de negócio. Acho ótimo, mas sem eles, não sobra nada. Os pilotos que foram para fora são os que os pais suportam.

BF – O que você achou da temporada 2009?
FS – Foi uma temporada atípica, com uma Ferrari e uma McLaren despreparadas e uma Honda, que virou Brawn, com um grande carro. Mas não acredito que Ferrari e McLaren fiquem duas temporadas consecutivas sem disputar o título.

BF – Você acha que quatro pilotos que disputaram o título em 2009 (Button, Barrichello, Vettel e Webber), incluindo o campeão Button, seriam campeões “estranhos”?
FS – Acho que no futuro vamos ver o Vettel como o melhor da turma. Ele vai ganhar títulos. Daqui uns 10 anos, vamos ver o Button como um campeão estranho.

BF – Qual sua expectativa para os pilotos brasileiros em 2010?

FS – Expectativas bem diferentes. O Barrichello vai tentar reconstruir uma equipe. Ele já fez isso com Jordan, Stewart e Honda. Ele pode brigar por uma boa posição no grid e esporadicamente brigar por uma vitória, porque é um bom piloto e sabe tirar um algo a mais de carros médios. O Massa tem que lutar pelo título. Se não conseguir, será um passo para trás na carreira. Ainda mais com o Alonso de companheiro, será um ano difícil. E o Bruno Senna tem que se concentrar em terminar corrida. E se conseguir pontuar, ótimo.

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