8 de fev. de 2011

Sevilha, boas histórias e o Super Bowl

Cheguei em Jerez de la Frontera no sábado a tarde. Aproveitei este tempinho sem Fórmula 1 para ir à Sevilha, capital da região de Andalucía.

Neste tipo de viagem, sem compromisso e muita vontade de ver coisas novas, sempre é legal fazer de trem, pois temos a oportunidade de vermos melhor as paisagens, o tipo de agricultura, as pequenas cidades no caminho...

De Jerez a Sevilha foi 1h10. Na noite anterior, eu tinha reservado um albergue que me pareceu bem central, e realmente era muito bem localizado, na “Plaza Encarnación”, bem perto das principais atrações da cidade.

Como ficaria apenas uma noite, deixei a maior parte da minha bagagem em Jerez, e levei apenas uma mochila pequena com duas mudas de roupas, produtos de higiene e máquina fotográfica.

Passei no albergue para pegar algumas informações, mapas e orientações e saí andando. Sevilha tem mais jeito de metrópole do que Valência. Muitos turistas e, mesmo sendo domingo, praticamente todos os restaurantes e bares estavam abertos.


Fiz o trivial, como a catedral da Torre Giralda, da Catedral de Santa Maria de Sevilha, terceira maior igreja do mundo, Parque da Expo Ibero-americana e centro histórico, com suas ruas bem apertadas, mas cheio de pequenas surpresas.

A cidade chama a atenção pela variedade de cores de seus prédios. Dificilmente vemos duas construções iguais, uma do lado da outra. Os diversos povos que habitaram a região também estão presentes vivamente nas influências arquitetônicas. Por ali passaram fenícios, cartagenos, romanos (dois imperadores nasceram em Sevilha: Adriano e Trajano), árabes e civilizações cristãs, com muitas referências às Américas, já que, mesmo não sendo na costa, o porto da cidade, no rio Guadalquivir, recebia muitos navios vindos das colônias espanholas.



No final da tarde, voltei para o albergue e fui descansar um pouco. Dois suíços tinham chegado pouco antes e estavam no mesmo quarto que eu.

Peter, que trabalhava em uma empresa de construção, e Silvio, design industrial, ambos 29 anos, resolveram chacoalhar um pouco a vida e estão em uma viagem de bicicleta pela Europa. Saíram há quatro meses de Einstedeln, onde vivem, passaram pela França, parando em Lion e Montpellier, seguiram pela fronteira com a Espanha até finalmente atravessá-la pelo País Basco e seguiram todo o litoral norte espanhol e a costa portuguesa até a sul, onde voltaram para o interior da Península Ibérica mirando Sevilha.

Naquele dia, estavam comemorando a marca de quatro mil quilômetros rodados. Só para se ter ideia, a distância entre Porto Alegre e Natal, em um caminho próximo da costa, é de 3.929 km.



O plano é descansar por quatro dias e partir para Córdoba e Málaga, onde irão pegar um navio para a Itália. O fim da viagem? Silvio claramente já está pensando em encerrar. Ele não admite na frente do amigo, mas me disse que está cansado. Peter segue empolgado, e já pensa em continuar depois até a Suécia. É bom destacar que nenhum dos dois é ciclista profissional ou já participou de competições. Mal andavam no dia a dia. [Pelo menos foi o que me disseram].

A ideia desta aventura foi de Peter. Há quatro anos ele fez uma trilha no norte da Inglaterra. “Voltei e percebi que tinha novos objetivos na vida. Queria conhecer novas coisas e fazer de uma forma diferente. Foram três anos e meio planejando e guardando dinheiro para poder ficar esse tempo sem trabalhar”, explicou.

Os dois pediram demissão de seus empregos, mas acreditam que não devem ter problema para conseguir novas ocupações quando retornarem.

Mais tarde, Peter ainda me contou que já tinha feito outra “pequena” viagem há alguns anos. Ele foi a Moscou e pegou um trem que cruza o país até Vladivostok [esse mesmo do seu tabuleiro do “War”]. De lá, seguiu para Coreia, China, Tailândia e Vietnam. Ele mantém um site com suas histórias, infelizmente em alemão, mas a galeria de fotos já vale a pena.

Durante a nossa conversa, chegou a quarta integrante do nosso quarto. Cristina é húngara e está viajando pela Andalucía atrás de emprego para passar um tempo. Já tinha passado por Córdoba e Málaga.

Ficamos todos contando cada um sua história [confesso que não sabia o que dizer depois desta turma] por um bom tempo até resolvermos sair para tomar umas cervejas. Cristina estava cansada e ficou no quarto. Eu e os suíços fomos primeiro no bar do albergue e depois começamos a procura por um lugar para seguir a noite.

Então sou surpreendido. Era noite do Superbowl, a final do futebol americano. E o que tem isso a ver com Sevilha? Bem, parece que existem muitos americanos na cidade, pois simplesmente não conseguíamos entrar em nenhum lugar. Todos os lugares estavam lotados de ávidos torcedores do Green Bay Packers e Pittsburgh Steelers. Entrada apenas com reservas.

Não foram poucos os bares visitados [Sevilha tem muitos] até que conseguimos um que deixou o bar liberado para não-americanos, enquanto estes ficavam em uma grande área interna com televisão para assistir a partida.

Jogamos conversa fora com alguns americanos (as) [chamava atenção especialmente das meninas o nosso desdém pelo jogo] até que conhecemos dois espanhóis [infelizmente, não guardei os nomes] com quem ficamos conversando.

Fomos os cinco ainda para uma baladinha que ficava a uns 20 minutos dali, que achei legal, pois era um lugar mais dos “locais”. Lembro que quando cheguei no albergue era seis e alguma coisa da manhã. Tinha que fazer o check out às 11 horas.

Tudo bem, acordei na hora certa, tomei um banho entreguei as chaves e segui para mais um dia de andanças por Sevilha. Sem as mesmas forças, e como já tinha feito o principal, dei prioridade a um “Sightseeing” que dava uma bela volta.

No final do dia, retorno a Jerez e começo de recompor a concentração para voltar ao trabalho nesta quarta-feira e, principalmente, para quinta, primeiro dia de cobertura no autódromo.

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