27 de fev. de 2011

No ponto

Jackie Stewart foi perfeito em seu artigo no jornal inglês “The Telegraph”: querem mais ultrapassagens? Mudem os circuitos.

Os pilotos saem da pista e voltam sem perder tempo. Os erros não são punidos. É o que argumenta o escocês, tricampeão mundial.

Ele está certo. Para que temos chicanes, que pilotos podem errar e voltar sem perder a posição, tranquilamente?

É verdade que as novas pistas são muito seguras e que não temos acidentes fatais na F-1 há quase 17 anos, mas tudo tem um limite. Apenas grandes retas com freadas bruscas, fórmula incansavelmente colocada em prática por Hermann Tilke, o arquiteto de todos os circuito modernos, não vão resolver o problema das ultrapassagens.

Sequências de curvas difíceis, que desafiem os pilotos, e punam erros seria um grande avanço. Circuitos com mudanças de revelo, com subidas, descidas, curvas com pontos cegos. Ou até mesmo pequenas fachas de grama, entre a pista e a área de escape de asfalto, já resolveriam o problema, causando um atraso para aqueles que saírem um pouco do traçado.

É algo a ser pensando. E vindo de uma cabeça como a de Jackie Stewart, deveria ser levado bastante a sério.

23 de fev. de 2011

Cobertura da pré-temporada 2011

Cobrir a Fórmula 1 não é fácil. Como eu já expliquei em outro post, ainda em Jerez, tudo parece bastante inacessível, principalmente para os jornalistas novatos no paddock.

Tentar marcar entrevistas é algo apenas para aqueles que cobrem a temporada inteira, apesar das assessorias de imprensa não dizerem isso de forma clara. Mesmo assim, fui achando o meu lugar e tentando impor um pouco de respeito.

Consegui alguns sucessos. Acho que a minha cobertura teve seus bons momentos. Lógico que sempre fica aquele gostinho de quero mais. É impossível não achar que “podia ser melhor” ou “poderia ter feito mais”. No final, realmente não sei dizer qual foi o saldo.



O fato de estar trabalhando para um veículo de internet, impede trabalhar um pouco mais os textos. A cobertura se torna bastante declaratória, com muitas aspas, algo que nos bancos das universidades é fácil de condenar [já fiz muito isso, inclusive, recentemente], mas na hora de ir para front, a coisa muda um pouco, ainda mais em um lugar em que a única informação está nas declarações.

Mas acho que consegui informar o que se passava de mais importante. As três entrevistas com o Bruno Senna, personagem que nem esperava conversar muito nesta pré-temporada, acabaram sendo bastante importantes no momento do piloto na Fórmula 1 e para esclarecer o público no Brasil de o que estava se passando por aqui.

Os papos com Rubens Barrichello também foram muito legais. Ele sabe se expressar bem sobre a parte técnica da categoria, ajuda a explicar muita coisa, além de continuar sendo um nome importante do país na categoria, em uma equipe tradicional.

Algumas informações que coletei sobre os pneus também foram interessantes e resultaram em uma matéria que visava clarear um pouco a situação, em meio a tantas declarações sobre os novos compostos da Pirelli.

Algumas coletivas servem mais para o lado da curiosidade. Kamui Kobayashi, por exemplo, acho que é um personagem que gera certa curiosidade pelo seu estilo agressivo na pista. Posso dizer que fora da pista ele também é diferente dos outros pilotos, mais solto, faz várias caras, se estica na cadeira, brinca, mas responde bem.

Já Fernando Alonso, por exemplo, parece uma pedra de gelo. Não mudava sua expressão facial. Respondia de forma direta, às vezes, até dura, mas sem mostrar isso com o corpo. Surpreendi-me ao conhecer alguns jornalistas espanhóis que dizem não gostar dele, pela sua postura com a imprensa. Mas as manchetes continuavam a chama-lo de “El Mago de las Astúrias”...

A minha conclusão que é impossível se fazer um trabalho de curto prazo na Fórmula 1. O começo é difícil, mas, aos poucos, tem que abrir o espaço, com uma cobertura contínua, mostrando a cara e interesse.

22 de fev. de 2011

Desafios em Barcelona

Cheguei em Barcelona no dia 15 à noite. Vindo de Jerez, fiz uma conexão em Madri que atrasou bastante devido um problema técnico no avião.

Ao chegar, com quatro horas de atraso, quase meia-noite, estou ao lado da esteira de bagagem, pensando na cama já, quando vejo que apenas eu tinha sobrado por ali. Fui ao escritório da Ibéria, a mala ficou em Madri. Tudo bem, eles iriam trazer no dia seguinte.

Segui para o meu hotel sem a minha mala, fiz o check in. Tive então dois dias livres em Barcelona para descansar um pouco antes do início dos testes da F-1. É sempre bom estar aqui. A cidade é bonita, tem muita vida, é uma metrópole, com muito comércio e restaurantes, que não seguem necessariamente a rigidez do horário comercial como no resto da Europa.

Realmente foi uma pena que o tempo estava ruim. Esta é minha terceira visita a Barcelona, então já conheço a maioria das atrações da cidade. Minha única alternativa era enrolar um pouco em restaurantes e bares para fugir da chuva. O que é uma ótima pedida por aqui.

Fui a mercado “La Boqueria”, parada obrigatória para comer um peixe ou uma paella e encarei um pouco a chuva para andar no Bairro Gótico, outro lugar que gosto muito por aqui. Aproveitei o tempo livre também para verificar o caminho para Montmeló, onde fica o circuito onde os testes seriam realizados.

Consegui assistir a partida entre Barcelona e Arsenal pela Liga dos Campeões em um bar de torcedores do clube catalão. Uma coisa que sempre acho estranho quando venho à Europa é encontrar pessoas que torcem para estas grandes potencias do futebol. É engraçado ver o cara torcendo ou xingando o Messi, da mesma maneira como fazemos com os nossos jogadores.

No primeiro dia de testes, lógico que acordei doente, com dor de garganta, ouvido e febre. Quando chego ao Centro de Credenciamento em Montmeló, percebo que perdi minha carteira de motorista. Expliquei a situação e eles aceitaram a xerox do meu passaporte que eu tinha comigo. Entro na Sala de Imprensa, e sou informado que os veículos de internet ficariam em uma tribuna isolada do paddock, do outro lado da pista. Para completar, não sei como, quebrei o plugue na minha fonte do notebook.

Ou seja, em algumas horas, o mundo caiu sobre a minha cabeça. Essas horas bate uma revolta com todo mundo, mas você acaba aos poucos tentando resolver os problemas.

A gripe, eu tinha que me conformar, ir me medicando e me cuidando. A carteira de motorista, não tinha muito que fazer. Depois ainda tentei encontrá-la no “achados e perdidos” da estação de trem, mas sem sucesso. Sobre o lugar da Sala de Imprensa, também não existia como mudar naquele instante. No final, eles ainda nos liberaram, no último dia de cobertura, para nos juntarmos com os outros jornalistas.

Consegui, pelo menos, fazer uma gambiarra na fonte que deixava a carga do note estável, apesar de não carregá-la. Acho que era o meu pior problema, já que sem o computador, não teria como trabalhar, e estava relativamente solucionado.

A cobertura em Barcelona seguiu complicada. Senti que algumas pessoas já estavam um pouco mais familiarizadas com a minha cara, mas, mesmo assim, a dura realidade da Fórmula 1 continuava dificultando a minha vida. Mas acho tive os meus momentos com algumas boas matérias e notas. Lógico que sempre fica aquele sentimento de “poderia ter feito melhor” ou “queria ter feito mais”. Mas, sobre a cobertura, vou falar melhor em outro post.

Agora tenho mais dois dias por aqui para descansar um pouco antes de voltar para casa e voltar à velha rotina.

21 de fev. de 2011

Apagam-se as luzes


Último dia de cobertura desta pré-temporada. Muito trabalho, algumas despedidas e novas histórias.

Ótima experiência. Muito dura, é verdade. Não é um ambiente fácil para se trabalhar e conviver. Mas não teria dúvida de voltar se tiver uma nova chance.

Em dois dias, sigo de volta para casa, mas, lógico, aproveitarei este tempo para contar algumas histórias legais aqui.

19 de fev. de 2011

Grandes disputas

Assim como fiz na semana passada com Jerez, a seção desta semana se concentrou em Barcelona, que recebe neste final de semana os testes da F-1.

O Circuito da Catalunha não é exatamente conhecido por grandes disputas. Bem pelo contrário, as corridas por aqui normalmente não possuem emoção alguma.

Porém, logo em sua estreia no calendário, em 1991, o circuito presenciou uma grande briga entre Ayrton Senna e Nigel Mansell, imagem que ficou imortalizada pela proximidade que os dois desceram a grande reta dos boxes.



Mansell precisava da vitória para permanecer na disputa pelo título. A tática da McLaren foi fazer com que Senna ficasse segurando o inglês enquanto Gerhard Berger escapasse na ponta. Só que o piloto da Williams fez uma das melhores corridas de sua carreira e conseguiu ultrapassar os dois carros do time rival.



Tentando se recuperar, Senna ainda cometeu um erro sozinho na entrada da reta dos boxes, rodou, e ficou somente em quinto.

A decisão seguia então para Suzuka, duas semanas depois, onde a McLaren repetiria a tática de Barcelona. Desta vez, com um erro de Mansell, o brasileiro venceria o seu terceiro campeonato mundial.

Outro bom lance em Barcelona é a ultrapassagem dupla de Rubens Barrichello sobre os irmãos Schumacher, que literalmente se digladiavam à frente, em 2000.

16 de fev. de 2011

Round 2

Os quatro dias em Jerez de la Frontera serviram para confirmar o que todos já estavam desconfiados em Valência: a Red Bull continua na frente.

O time austríaco não está frequentando as primeiras posições das sessões, mas é nítido para quem está no circuito como o carro já está mais evoluído que os demais.



Isso não significa que o RB7 será invencível em 2011. O carro é uma evolução do RB6, campeão do ano passado, com adequações ao novo regulamento técnico. Por isso, é normal que pilotos e engenheiros tenham conseguido entender mais rápido o seu comportamento e reações para iniciarem o trabalho de setup, enquanto os outros times ainda se adaptam e encontram surpresas em seus novos modelos.

Os comentários no paddock é que Ferrari e McLaren também estão fortes. A Lotus Renault poderia ser um carro que estava cotado para surpreender, mas com Kubica. Mercedes segue uma incógnita.



O melhor tempo de Rubens Barrichello em Jerez não quer dizer que o carro da Williams irá brigar por vitórias, mas também é um alento para o time que está enfrentando alguns problemas técnicos, especialmente com o Kers. O brasileiro não estava usando o dispositivo quando fez a marca, no domingo.

A Williams mostrou que tem velocidade. O tempo de Barrichello foi 0s520 melhor do que qualquer outro carro em Jerez. É verdade que foi feito com tanque vazio e pneu supermacio, mas será que mais ninguém dos times médios tentou o mesmo ou próximo disso? A diferença foi bem grande.



E os pneus vão se colocando cada vez mais como fator determinante para 2011. Todos apontam que o normal serão duas paradas por corrida, mas que pilotos e equipes terão que administrar mais os compostos, diferente dos últimos anos..

Mais do que mais paradas no box, estes novos pneus deverão trazer de volta à F-1 a necessidade do piloto administrar os seu compostos, tentar tocar diferente para evitar um desgaste maior, ou simplesmente ir para cima para tentar compensar um pit stop a mais.

A diferença entre os quatro tipos de pneu [supermacio, macio, médio e duro] é por volta de 3 segundos [depende do carro]. A Pirelli levará para as primeiras quatro provas, o macio e o duro, que têm uma diferença de rendimento entre 1s7 e 2 segundos. Ou seja, carros em estratégias diferentes terão performances bem diferentes.

Pane hidráulica

Ainda em Valência, em sua primeira coletiva na pré-temporada, Nico Rosberg foi questionado sobre um problema que sua Mercedes tinha sofrido durante a sessão, que a deixou parada na pista.

“Foi um problema na caixa de câmbio”, disse e logo começou a especificar a falha até que foi interrompido pelo assessor de imprensa da equipe. “Foi um problema hidráulico”.

Nico olhou para ele. “Problema hidráulico?” Sim, confirmou o assessor.

O piloto voltou a olhar para os jornalistas. “Bem, foi um problema hidráulico.”

Pode ser que realmente tenha sido um problema hidráulico e Nico ainda não tinha sido informado que o time descobriu a verdadeira causa da pane no seu carro. Mas, de qualquer forma, foi um momento curioso desta cobertura.

Tentar trazer informações privilegiadas, mesmo estando nos autódromos, é bem mais complicado do que imaginei quando estava planejando esta viagem. As equipes são bem fechadas e dificilmente os pilotos falam fora das coletivas.

O problema da credencial é gigante. A FIA não aceita veículos de internet durante a temporada. Apesar de isso ser driblado durante os testes, claramente existe uma diferença de tratamento entre aqueles que estão em todas as provas [que possuem uma credencial vermelha] para os demais.



Alguns jornalistas, mal saem de suas mesas para conseguir informações. Existe uma relação um pouco dúbia com determinados times.

Enquanto isso, aqueles não tão conhecidos no paddock, tentam marcar entrevistas e construir pautas com grande dificuldade. A olhada no peito para ver a credencial é praxe e normalmente vem acompanhada da pergunta: “Você não cobre toda a temporada, sim?”.

Alguns jornalistas também mostram certo preconceito e claramente se sentem incomodados quando um novato faz uma pergunta em coletiva. Não vou nem entrar no assunto ufanismo, caso contrário este post não teria fim.

É um mundo fechado, com muitos segredos, porém, muita frescura também. Alguns exageros sem nenhum motivo. É bom deixar claro que isso não é um problema de todas as equipes. Além disso, alguns pilotos ajudam também. Caso de Rubens Barrichello, que quebrou vários galhos para a imprensa brasileira. A assessoria da Ferrari, dentro de um certo limite, também é compreensiva.

Mas tudo bem, jornalista serve justamente para tentar quebrar estas barreiras. Segue a cobertura com mais quatro dias em Barcelona.

Jerez

Fiquei dez dias em Jerez de la Frontera. Das três cidades desta cobertura da pré-temporada da F-1 na Espanha, era a única que eu não conhecia.

Jerez fica na linda região de Andalucía, sudoeste da Espanha, próxima a costa da África e da fronteira com Portugual. De lá, é fácil ir conhecer Sevilha, a grande cidade da região, e Cádiz, de belas praias, que devem ser muito interessantes e agitadas no verão.



Nesta época que estive por lá, não é exatamente a melhor para conhecer a cidade. Jerez tem um centrinho charmoso, com vários restaurantes e bares, em um estilo bem Campos do Jordão. No final de semana, mais agitada enquanto que de segunda a sexta-feira, fica mais tranquila.

A Calle Larga é uma Oscar Freire deles. Um calçadão com muitas lojas de marca e alguns bares e restaurantes com preços mais salgados.



Para minha sorte, tive um bom guia. Juan trabalha na recepção do hotel em que fiquei. Indicou-me, pelo menos, uns três restaurantes, um bar e uma balada. Cada dia eu tinha um pedido diferente. “Hoje quero comer rápido e barato”, “comer uma boa pizza”, “tomar uma cerveja”, “ouvir uma música” e por ai vai. Saí mais que satisfeito de todos.

Quando eu agradecia ele dizia que até poderiam existir lugares mais famosos, mas que ele só indica lugares que ele vai e gosta. Está bem, Juan, obrigado.

Acho que existem lugares mais interessantes para se conhecer na Espanha, mas para quem quiser visitar Jerez, tenho uma mapa com as marcações do Juan, então, é só entrar em contato.

9 de fev. de 2011

Grandes Disputas

Aproveitando que a partir de amanhã Jerez de la Frontera passa a receber a segunda fase dos testes da pré-temporada da Fórmula 1, a seção traz hoje um pequeno especial de disputas nesta pista.

Claro que faltaram vários outros, mas selecionei três momentos. O primeiro é durante o GP da Espanha de 1986, entre Senna e Mansell. Os dois se pegaram a corrida inteira, e, no final, o inglês, com pneus novos, veio para cima do brasileiro e eles protagonizaram uma das chegadas mais espetaculares da história da categoria.



A segunda lembrança é a decisão do título entre Jacques Villeneuve e Michael Schumacher, no GP da Europa de 1997.



E finalmente, o terceiro momento, é em uma prova da MotoGP. A polêmica ultrapassagem de Valentino Rossi sobre Sete Gibernau, na última curva da etapa da Espanha de 2005.

8 de fev. de 2011

Sevilha, boas histórias e o Super Bowl

Cheguei em Jerez de la Frontera no sábado a tarde. Aproveitei este tempinho sem Fórmula 1 para ir à Sevilha, capital da região de Andalucía.

Neste tipo de viagem, sem compromisso e muita vontade de ver coisas novas, sempre é legal fazer de trem, pois temos a oportunidade de vermos melhor as paisagens, o tipo de agricultura, as pequenas cidades no caminho...

De Jerez a Sevilha foi 1h10. Na noite anterior, eu tinha reservado um albergue que me pareceu bem central, e realmente era muito bem localizado, na “Plaza Encarnación”, bem perto das principais atrações da cidade.

Como ficaria apenas uma noite, deixei a maior parte da minha bagagem em Jerez, e levei apenas uma mochila pequena com duas mudas de roupas, produtos de higiene e máquina fotográfica.

Passei no albergue para pegar algumas informações, mapas e orientações e saí andando. Sevilha tem mais jeito de metrópole do que Valência. Muitos turistas e, mesmo sendo domingo, praticamente todos os restaurantes e bares estavam abertos.


Fiz o trivial, como a catedral da Torre Giralda, da Catedral de Santa Maria de Sevilha, terceira maior igreja do mundo, Parque da Expo Ibero-americana e centro histórico, com suas ruas bem apertadas, mas cheio de pequenas surpresas.

A cidade chama a atenção pela variedade de cores de seus prédios. Dificilmente vemos duas construções iguais, uma do lado da outra. Os diversos povos que habitaram a região também estão presentes vivamente nas influências arquitetônicas. Por ali passaram fenícios, cartagenos, romanos (dois imperadores nasceram em Sevilha: Adriano e Trajano), árabes e civilizações cristãs, com muitas referências às Américas, já que, mesmo não sendo na costa, o porto da cidade, no rio Guadalquivir, recebia muitos navios vindos das colônias espanholas.



No final da tarde, voltei para o albergue e fui descansar um pouco. Dois suíços tinham chegado pouco antes e estavam no mesmo quarto que eu.

Peter, que trabalhava em uma empresa de construção, e Silvio, design industrial, ambos 29 anos, resolveram chacoalhar um pouco a vida e estão em uma viagem de bicicleta pela Europa. Saíram há quatro meses de Einstedeln, onde vivem, passaram pela França, parando em Lion e Montpellier, seguiram pela fronteira com a Espanha até finalmente atravessá-la pelo País Basco e seguiram todo o litoral norte espanhol e a costa portuguesa até a sul, onde voltaram para o interior da Península Ibérica mirando Sevilha.

Naquele dia, estavam comemorando a marca de quatro mil quilômetros rodados. Só para se ter ideia, a distância entre Porto Alegre e Natal, em um caminho próximo da costa, é de 3.929 km.



O plano é descansar por quatro dias e partir para Córdoba e Málaga, onde irão pegar um navio para a Itália. O fim da viagem? Silvio claramente já está pensando em encerrar. Ele não admite na frente do amigo, mas me disse que está cansado. Peter segue empolgado, e já pensa em continuar depois até a Suécia. É bom destacar que nenhum dos dois é ciclista profissional ou já participou de competições. Mal andavam no dia a dia. [Pelo menos foi o que me disseram].

A ideia desta aventura foi de Peter. Há quatro anos ele fez uma trilha no norte da Inglaterra. “Voltei e percebi que tinha novos objetivos na vida. Queria conhecer novas coisas e fazer de uma forma diferente. Foram três anos e meio planejando e guardando dinheiro para poder ficar esse tempo sem trabalhar”, explicou.

Os dois pediram demissão de seus empregos, mas acreditam que não devem ter problema para conseguir novas ocupações quando retornarem.

Mais tarde, Peter ainda me contou que já tinha feito outra “pequena” viagem há alguns anos. Ele foi a Moscou e pegou um trem que cruza o país até Vladivostok [esse mesmo do seu tabuleiro do “War”]. De lá, seguiu para Coreia, China, Tailândia e Vietnam. Ele mantém um site com suas histórias, infelizmente em alemão, mas a galeria de fotos já vale a pena.

Durante a nossa conversa, chegou a quarta integrante do nosso quarto. Cristina é húngara e está viajando pela Andalucía atrás de emprego para passar um tempo. Já tinha passado por Córdoba e Málaga.

Ficamos todos contando cada um sua história [confesso que não sabia o que dizer depois desta turma] por um bom tempo até resolvermos sair para tomar umas cervejas. Cristina estava cansada e ficou no quarto. Eu e os suíços fomos primeiro no bar do albergue e depois começamos a procura por um lugar para seguir a noite.

Então sou surpreendido. Era noite do Superbowl, a final do futebol americano. E o que tem isso a ver com Sevilha? Bem, parece que existem muitos americanos na cidade, pois simplesmente não conseguíamos entrar em nenhum lugar. Todos os lugares estavam lotados de ávidos torcedores do Green Bay Packers e Pittsburgh Steelers. Entrada apenas com reservas.

Não foram poucos os bares visitados [Sevilha tem muitos] até que conseguimos um que deixou o bar liberado para não-americanos, enquanto estes ficavam em uma grande área interna com televisão para assistir a partida.

Jogamos conversa fora com alguns americanos (as) [chamava atenção especialmente das meninas o nosso desdém pelo jogo] até que conhecemos dois espanhóis [infelizmente, não guardei os nomes] com quem ficamos conversando.

Fomos os cinco ainda para uma baladinha que ficava a uns 20 minutos dali, que achei legal, pois era um lugar mais dos “locais”. Lembro que quando cheguei no albergue era seis e alguma coisa da manhã. Tinha que fazer o check out às 11 horas.

Tudo bem, acordei na hora certa, tomei um banho entreguei as chaves e segui para mais um dia de andanças por Sevilha. Sem as mesmas forças, e como já tinha feito o principal, dei prioridade a um “Sightseeing” que dava uma bela volta.

No final do dia, retorno a Jerez e começo de recompor a concentração para voltar ao trabalho nesta quarta-feira e, principalmente, para quinta, primeiro dia de cobertura no autódromo.

Luiz Pereira Bueno

Morreu hoje, aos 74 anos, de câncer, Luiz Pereira Bueno, um dos principais nomes da história do automobilismo brasileiro.

Acredito que existem várias pessoas mais indicadas do que eu para falarem dele, muitas estão com seus blogs relacionados na coluna à direita, mas, mais como do que como jornalista, e sim como fã das corridas, deixo aqui minha lembrança e homenagem.

5 de fev. de 2011

Valência

Neste sábado me despedi de Valência para partir rumo à Jerez de la Frontera, onde acontecerão os próximos testes da Fórmula 1.

Esta foi a segunda vez que estive em Valência. É uma cidade que gosto bastante. Normalmente, quando se fala em viagens à Espanha, as pessoas gostam de comparar Madri e Barcelona, mas acredito que cabe mais um nesta briga.



Linda, a cidade consegue combinar a antiguidade do seu centro velho, de ruas estreitas e prédios de vários estilos, como parisiense, veneziana (por influência) e árabe (devido à invasão moura) com bairros afastados, que têm planejamento mais moderno, de grandes avenidas e construções e pontes ousadas, como a Cidade das Artes e das Ciências, de Calatrava.

Além disso, Valência tem uma vida bem agitada, com bares bem legais no centro, mulheres bonitas, bons restaurantes, boa gastronomia local e praia, que ainda não pude aproveitar porque sempre vim no inverno.



Espero poder voltar em breve, quem sabe alguma vez no verão só para mudar um pouco, não?

Nos próximos dias conto um pouco do que ver aqui em Jerez, um lugar totalmente novo para mim, em uma região muito charmosa da Espanha.

4 de fev. de 2011

Round 1

Ontem terminou a primeira parte da pré-temporada da Fórmula, que teve três dias de testes no Circuito Ricardo Tormo, em Valência.

Ainda é muito difícil se tirar qualquer tipo de conclusão. Mesmo pilotos e equipes preferem não fazer previsões neste estágio inicial.

Red Bull e Ferrari continuam fortes e quem parece que se aproximou desta briga é a Lotus Renault, mas ainda é difícil se saber quanto. A McLaren lançou o seu novo carro apenas hoje, em Berlim, que veremos na pista pela primeira vez na semana quem vem, em Jerez de la Frontera.



Tudo por enquanto é uma mera adivinhação, já que não temos acesso aos números internos dos times.

No entanto, alguns pontos tiveram destaque nesta semana.

A asa móvel parece que funciona e que facilitará as ultrapassagens. A preocupação é a quantidade de dispositivos que se está obrigando os pilotos prestarem atenção. Além dos acertos que já existiam, como de diferencial e freios, entre outros, eles ainda têm o Kers, que volta nesta temporada, para ser acionado.

“Você junta tudo aquilo que você tem para usar e mexer no carro, o piloto não para. Você está guiando em uma velocidade alta, no limite do carro e tem que mexer e prestar a atenção em tudo o que acontece em volta, em todas estas novidades. Se você estiver correndo sozinho, não é problema, mas em uma corrida em que você estiver disputando com vários carros, isso pode ser um problema”, explicou Felipe Massa em entrevista na última quinta-feira.

O piloto entrará na reta, acionará o Kers, e, se estiver a menos de um segundo do seu adversário à frente, poderá utilizar a asa móvel para diminuir o arrasto do aerofólio traseiro e tentar a ultrapassagem. Isso perto dos 300 km/h. Imagine uma prova com vários carros próximos ou na chuva, como as que caem normalmente na Malásia?



O outro assunto foi os pneus Pirelli, que a partir de 2011 substituem os da Bridgestone. O desgaste bastante acentuado, especialmente nos traseiros, chamou a atenção e todos ainda estão tentando encontrar um novo acerto para conseguir equilibrar seus carros.

Alguns pilotos, que sofreram no ano passado nas classificações porque não conseguiam temperatura suficiente nos pneus em poucas voltas, gostaram destes compostos mais macios, como Felipe Massa e Jenson Button. Outros estão reclamando que após poucas voltas, os carros ficam bastante traseiros.

Uma coisa é certa, as corridas terão mais pit stops. E talvez não só dois, mas até três. Em Valência, os pneus duravam menos de 30 voltas.

Sobre os carros, a cada dia se observa algo diferente. Por enquanto, a grande novidade parece ser o escapamento da Renault, que vai para frente e faz uma curva para soltar os gases no assoalho por debaixo da entrada de ar lateral, buscando um efeito parecido com que a Red Bull tinha até o ano passado com o difusor duplo assoprado, que ficou impossibilitado pela obrigatoriedade da peça ser de apenas um andar a partir de 2011.

Ferrari e Red Bull apostaram em uma evolução dos seus projetos do ano passado. A Mercedes surgiu com um desenho bastante diferente, em uma mudança radical em comparação ao ano passado.



Quem também apresentou algumas novidades foi a Williams, principalmente na parte traseira. O time conseguiu desenvolver uma caixa de câmbio bem menor, o que possibilitou um trabalho aerodinâmico melhor na área. A suspensão traseira apresenta um desenho diferenciado, com as barras presas no suporte do aerofólio.

Na semana que vem, muitas coisas novas ainda devem surgir, e após os quatro dias em Jerez [10 a 13], a divisão de forças pode começar a ficar mais clara.